13 de abril de 2011

O amor não pede licença

Ele vem na contramão das tuas ordens,
Na não exatidão dos teus quereres.
Na disfarçada inocência dos prazeres,
Ele vem inquietar.
Sem suplício, sem licença, sem alvará.
Ele vem sem tu menos esperar.
Sem tu menos conceder, ele irá chegar.
E ele não chega passageiro, despercebido.
Ele vem desordenando a casa, desfazendo malas, fazendo faxina,
Desorganizando a rotina, dizendo que ali é o seu lugar.
Ele chega pra ficar.
Pra morar.
Se aninha, desembrulhando ranços antigos,
Fazendo bagunça, tirando a poeira, beirando a arruaça,
Que nem mancha, que nem noda - e não passa.
Ele se faz percebível e é inconcebível sua anulação.
Ele chega sem possibilidades de não.
Sem senãos.
Propagando à multidão a sua exatidão no tempo, o seu porquê,
Se fazendo irrevogável a sua aceitação.
Ele chega tão espaçoso, tão ordinário,
Sem medir o terreno, mas com a certeza de que irá caber.
Com cara de traça, corroendo,
Ele chega fincando, pra se estabelecer.
Ele chega com a certeza de cumprir o seu dever.
O amor é assim, exato, inato, certeiro.
De uma hora pra outra ele dá as caras, ele abre a porta,
E tu vai ceder.

Recife, 25 de Março de 2011.