14 de dezembro de 2010

O amor não se planeja

Às vezes, em um surto de desespero, eu penso em terminar relacionamentos alheios,
Ou em me relacionar com pessoas que eu jamais faria.
Eu tento planejar.
No fundo, é apenas uma maneira de suprir a irremediável carência que me aperta o peito.
Assim, vou esquecendo que o amor não é isso,
Que o amor chega sem esperar.
Esquecendo o que para mim sempre foi tão óbvio;
Esquecendo a imprevisibilidade que é amar.

Recife, 09 de Dezembro de 2010.

30 de novembro de 2010

(r)Evolução do peito

Foi tudo tão imprevisível, tão imprevisto;
Anti-romantismo, talvez, até me arrisco dizer.
Não precisou de flores, de gestos, de dores - nada que se fizesse entender.
Simplesmente aconteceu, ali, naquele dia tão coloquial.
Tão blasé.
Sem precisar de santo, cupido, ninguém.
Sem precisar de um vintém.
Quisera ele saber que seria o seu grande dia, derradeiro porém.
Vi que a paz que ali reinava estava por cessar.
Clamava por alguém.
Ouvia os gritos de uma (r)evolução, de arruaça.
Mas acontecia dentro de si - de mais ninguém.
Não era motim, não era estopim, não era nada em particular.
Era o seu peito chacoalhando, implorando,
Pronto para amar.

Recife, 15 de Dezembro de 2010.

Esquecido eu

Minha verdadeira essência permanece, adormecida.
Ela faz parte de alguma parte do meu eu perdido,
Esquecido por mim mesmo nas desilusões do tempo.
Às vezes consigo reencontrá-lo em raros momentos de descuido,
Em que sutilmente me esqueço quem eu me tornei.

Recife, 30 de Novembro de 2010.

23 de novembro de 2010

Alguma coisa acontece no meu coração

Dediquei à ti meus pensamentos,
Pelas ruas da São Paulo que passei.
Rememorei histórias, versos, surpresas, replays.
Refiz a trajetória de um amor inconformado,
Das idas e vindas deste meu coração freguês.
Pelas ruas de São Paulo
Te refiz, te requis, te recriei,
E notei que foi tão pouco o nosso amor
Pro tanto que eu te amei.

Recife, 25 de Novembro de 2010.

Perdidismo

Eu não sei bem a que pertenço, qual parte dessa vida me faz parte, me faz ser.
Eu não sei bem a quem pertenço nem se a alguém deveria pertencer.
Eu vivo mesmo meio perdido, eis a verdade, busco o porquê.
E esse perdidismo só me faz crer que muito ainda hei de viver.

Recife, 24 de Novembro de 2010.

16 de novembro de 2010

Bloon

O teu sorriso e o teu olhar foram meu convite à chegada,
Teu beijo inesperado minha certeza do ficar.
Tu, sempre me olhando - lá de cima, desconcertado,
Eu, também olhando, nem esperava me encantar.

Sinto falta dos teus olhos na incerteza dos enganos,
Que nem toda inocência carregava mais.
Teus 20 anos de malícia não estavam nos meus planos,
E talvez por isto tenha sido tão fugaz.

Hoje, incertos, na certeza da incerteza,
Somos dois errantes, nos olhando sem ter paz.
Assim, segues teu caminho, se enganando na tristeza,
E eu, sempre te olhando, com um ar de quem quer mais.

Recife, 17 de Novembro de 2010.

Silêncio e Coca

Já é quase dia
E a poesia que se aninha dentro de mim
Inquieta.
Querendo sair, querendo gritar,
Descompasando a exatidão deste silêncio
Que sofre madrugada a dentro,
Desperta.
Já é quase dia
E o cigarro me faz companheiro com meus goles de Coca.
Nada mia,
Nada pia,
Tudo choca.

Recife, 17 de Novembro de 2010.

12 de novembro de 2010

Meus presentes

Todas minhas histórias são presente,
Não há como deixa-las no passado.
Declarações que não esqueço,
Momentos de apreço,
Sentimentos que não podem ser renegados.
Todas minhas histórias são presentes,
E não se devolve o que um dia lhe foi dado.
Todas as histórias são memória,
Da grandeza de se ter amado.

Recife, 12 de Novembro de 2010.

3 de novembro de 2010

O amor em festa

A chegada do amor é o momento mais esperado de nossas vidas.
De nossas festas.
É a comunhão do bolo nas comemorações.
A chegada do amor é o que não come pelas beiradas.
Ataca o recheio, a cereja.
E desenfeita,
Em um processo de desconstrução consentido.
À chegada do amor é a nossa única concessão ao miolo,
Sem desapetecer as fatias.
É nossa melhor entrega.
De todas, a mais precisa.
Porque o amor quando chega não deixa margens,
Sequer dúvidas.
Ele é.
O dono do primeiro pedaço,
Que chega faminto, urgente, pidão,
Sem qualquer educação que lhe permita esperar o parabéns.

Recife, 03 de Novembro de 2010.

28 de outubro de 2010

Eu só

Eu não tenho mais emendas,
Não tenho mais cobertas.
Meu amores são retalhos,
Nesse quarto de costuras,
Nos cantinhos,
Nos armários.
São pedaços,
Minhas rupturas,
Meus quadros sem molduras
Nessa aquarela da vida.
Neste peito sem rechaços,
Não escasso,
Sem feridas.

Recife, 28 de Outubro de 2010.

Reticências

Tenho na vida algumas histórias sem fim...
Inacabadas...
Alguns amores que deixei para trás...
Sem a certeza de que realmente seria infeliz...

Recife, 28 de Outubro de 2010.

18 de outubro de 2010

Lembranças

Lembrei dos nossos vinhos;
Dos nossos cigarros;
Das nossas músicas;
Dos nossos olhares.
Lembrei de cada detalhe das nossas melhores madrugadas.
Lembrei de como você adormecia em meus braços quando tudo isso terminava.
Tentei lembrar o que sentíamos...




Talvez seja tarde.

Recife, 18 de Outubro de 2010.

Da inevitabilidade do amar e sofrer

Desde que aprendi a andar,
Desde que aprendi a ser,
Percebi que minha sina é viver para sofrer.

Todo homem quando nasce,
Quando a vida aprende a ver,
Reconhece que sua missa é amar para viver.

Diferente não seria,
Minha vontade, meu querer.
O meu lema nesta vida é apenas um:
Verdadeiramente viver!

Amar, amar, amar.
Sofrer, sofrer, sofrer.

Recife, 2010.

17 de outubro de 2010

A verdade

A verdade é que eu nunca te amei. E você me fez um favor obstruindo os caminhos e desviando minhas atenções com suas traições. Pensei ainda, em breves instantes, que o rancor por sua canalhice havia se confundido com amor. Quisera você - eu ter esquecido o amor e tivesse acreditado em nosso relacionamento-mentira. A verdade é que você foi meu cano de escape, minha razão para tentar esquecer o outro e a salvação para minha capacidade de re-amar. A verdade é que nosso sexo era sem graça, tua dicção era um lamento e tudo isso um prêmio de consolação por todos os amores que eu havia perdido. Por toda cultura, por todo carinho, por todo sexo bem feito que eu fui obrigado a esquecer, após um dia ter amado de verdade. Por todos os lamentos que por livre e espontânea vontade me permiti ao teu lado e que me fizeram merecer alguém tão pequeno quanto você. A verdade é que derramei algumas lágrimas por ti, quando já não tinha certeza de meus valores corrompidos pela ceguidão que me adiantava. A verdade é que também derramei tantas outras lágrimas em um ato de auto-compadecência pela minha errônea escolha, tão óbvia e tão irreversível, a ponto de me fazer cair em desespero. A verdade é que nem tudo foi verdade - o sexo supostamente prazeroso, os gostos distantes, as lágrimas que derramei por outros motivos e medos, as falsas declarações de amor, os bilhetes que nunca te escrevi. A verdade é que tu não despertou meu verdadeiro eu, meu romantismo, minha entrega autruista e jamais tivesses meus carinhos como tantos outros tiveram um dia. E se para tu foi muito, saiba que muito mais eu já havia dado em outros tempos, a outrem. A verdade é que você foi tolo - não por me perder - mas por perder o pouco que você já era. Por perder o respeito que você poderia ter construido para si mesmo. A verdade é que a tua vergonha é maior do que tua própria força para reconstruir, que a tua desrazão te dá razão para me diminuir a uma escala que eu jamais poderei alcançar, porquê somos tão diferentes que o patamar que tu se encontras é para mim desconhecido, embora eu possa perfeitamente compreende-lo. A verdade é que eu resolvi não guardar tuas verdades e optei por escancarar as vergonhas que descobri no pouco tempo que me permiti ao seu lado. A verdade é que por isso, tu vais sempre me odiar. E embora eu não te odeie - apenas lamente - eu irei sempre fingir, para não perder o costume da nossa história.

Recife, 01 de Setembro de 2010.

5 de outubro de 2010

Reconstruindo sonhos

Não importa quantas ondas derrubem nossos castelos,
Haverá sempre areia suficiente para reconstruí-los.

Recife, 05 de Outubro de 2010.

23 de setembro de 2010

Finalmente

Meus dias de bonança chegaram,
Finalmente meus dias de alegria!
Ouço de novo corais, carnavais, cantoria.
Meus dias viraram sinfonia!
Vejo o sol escondido brilhando,
Se foram meus dias ventos, de chuva, de banzo.
Meus dias de outono.
Cheguei aos céus, quase Deus,
Quase rei, sentado no trono.
Liberdade! Pra saudade não ter lugar.
Percebi que um adeus nunca é tarde,
Pra quem não sabe amar.
Finalmente eu volto a sorrir,
Se foram meus dias de dor.
Finalmente eu volto a viver,
Porquê você me deixou.

Recife, 18 de Setembro de 2010.

13 de setembro de 2010

Só tu, mar

Olá mar, eu vim te ver,
Vim contemplar tua imensidão, teu ar,
Teu mover esnobe ao nosso lar,
Ao nosso limiar.

Tuas águas que vem e vão,
Nosso dejetos,
Meus senãos.
Tu, mar, que desfila façanhas,
Que despeja as entranhas no teu chegar.

Olá mar, tua imensidão,
Contracenso a nossas vidas que se limitam à beira,
A molhar os pés, a tuas espumas, como as brumas,
Definindo as possibilidades do infinito.
Tão envolvente, sem fazer esforço,
Unindo, indo-e-vindo, vidas,
Apagando caminhos e pegadas.

Só tu que bronzeia, que semeia,
Que passeia pés perdidos,
Que quebra nossas barreiras na imensidão de teu infinito.
Só tu que acolhe,
Que afoga os mitos desse meu pensar.
Só tu, mar, que esconde as belezas,
As riquezas e incertezas desse navegar.

Recife, 04 de Setembro de 2010.

Renascimento na praia

Vai-e-vem e foi-se o mar.
Vento, onda, água.
Tudo vem limpar.

Recife, 03 de Setembro de 2010.

12 de agosto de 2010

Do prumo do amor

O amor tem casa, morada.
Ele não sai por aí peregrinando.
O amor tem ponto de chegada.
Ele quer ao fim do dia a mesa posta,
O café coado,
A roupa engomada.

O amor não tem vertentes,
Adjacentes,
Incertezas na estrada.
É tiro certo,
Certeira cavalgada.

O amor enxerga ao cego, tino.
Caminhando no instinto.
É bicho empreiteiro, lavrador.
É formiga,
É bicho construtor.

O amor amado vai seguindo,
Sorrindo,
Não tem errada -
Por isso a jornada.

Recife, 12 de Agosto de 2010.

4 de agosto de 2010

Devasto

Que estrago tu causastes neste peito.
Logo tu, de todos os amores, o mais banal.
Que vendaval deixando ruínas,
Destelhando minha harmoniosa morada -
Meu, um dia, castelo.
Que prazer tens?
Se afastas de mim e somes,
Com essa fúria incessante por destruição.
Causas dor àqueles que a altura te retribuem.

Só assim tu aprendes -
Só assim eu gozo.

Recife, 04 de Agosto de 2010.

30 de julho de 2010

Da dificuldade do esquecer

Surge da memória uma lembrança tua -
Tão intensa e inesperada,
Tão presente na ausência de nossos encontros.
Uma lembrança tola, quase vaga e desconcertada.
Dos tempos em que nossos boleros eram mais dança,
Em que nossas cervejas eram mais domingo;
Nossa brisa mais rede.
Surge uma lembrança chico,
Com um quê de melancolia.
Como a tristeza da partida,
Como a decepção do desencontro,
Como a agonia do não se saber.

Recife, 31 de Julho de 2010.

22 de julho de 2010

Encontro casual

Duas almas perdidas numa noite vazia.
Cruzam olhares,
Fugazes,
Os quais nunca mais se veria.

Espasmo; sarcasmo; orgasmo.
Duas almas perdidas numa noite vazia,
Nenhuma delas se sacia.

Se cruzam e se vão,
Na efemeridade dos dias.
Loucura? Magia?
Tão eloquentes, se não.

Duas almas com fome de história,
Com fome de glória, pão.
Mesa posta -
Garfo, faca e prato na mão.

Eis a ceia:

Duas almas perdidas numa noite vazia,
Abrindo suas vidas,
Quem diria!

Recife, 23 de Julho de 2010.

20 de julho de 2010

Ensaio de obra-prima

Não estava escrito esta tua saída pela culatra
Este passo em falso
Esta história mal elaborada, borrada
Este quase-conto-de-fadas

Não estava escrito no prefácio, no resumo ou nos anais
Jamais compraria tal romance
Tal história fulgás
Fadado
Fracassado
Este roteiro interminado

Se eu soubesse teria ajudado a reescrever
A refazer a história
A reinventar sua memória
Que de tudo, não restou

Se eu soubesse, teria reescrito o fim
E ao invés de sofrimento
Terminaria com nada mais justo que amor

Recife, 20 de Julho de 2010

19 de julho de 2010

A mendiga

Vagava pela rua despetalando uma flor, a mendiga.
Bem me quer,
Mal me quer.
Por alguém ela também chora,
Embora tenha outras aflições pelas quais ora:
O que come,
O que veste,
Onde mora?
Vagava a mendiga,
Com a vida desesperançosa,
Despetalando a flor.
Deixava de lado as preocupações de outrora,
Os porquês do agora,
Por um antigo amor.

Recife, 20 de Julho de 2010.

8 de julho de 2010

A chance das nossas vidas

Meu amor,

Muitas vezes perdemos tanto tempo com o vazio, que esquecemos de viver.
Perdemos tempo pensando o que poderia ter sido daquele dia que não foi aproveitado.
Perdemos tempo pensando no que o namorado poderá ter feito naquela noite sozinho na boate.
Perdemos tempo sofrendo por antecipação, chorando por uma rejeição não efetivada.
Perdemos tempo nos lamentando, discutindo, brigando, cortando e costurando os pedaços de nosso coração.
Ocupamos a cabeça com pensamentos vazios que não nos levam a lugar algum.
Lamentamos não termos nosso próprio dinheiro.
Lamentamos não termos passado em um concurso por 1,2 pontos.
Por não termos produzido tanto naquela tarde solitária.
Por estar sozinho - mesmo sabendo que temos um mundo que nos ama lá fora, nos esperando.
Choramos o que nunca foi vivido.
Choramos pelo medo de não viver.
Choramos e sofremos dissabores insípidos, que sequer se valem a dor.

Por isso, às vezes, esquecemos de acordar.
De lembrar que só há uma vida e que precisa urgentemente ser consumida.
Quando isto acontece, minha vida, repaginamos nossa história!
Colorimos nossos livros,
Zelamos pela nossa biblioteca.
Quando isto acontece mudamos do montinho ao qual estávamos acostumados a nos observar e subimos uma montanha, porque ficamos gigantes!

Meu conselho é, meu amor,
Não perca tempo com o vazio dos dias que não vivemos - receba os próximos de braços abertos.
Não lamente as derrotas - encare-as como uma evolução.
Lute.
Tenha garra.
Acredite que só você tem o poder de conseguir.
Não lamente uma tarde improdutiva - produza mais no dia seguinte.
Não forçe sua mente - ela quem tem controle sobre você.
Descanse-a.
Não sofra com a solidão - aqueça seu coração com os tantos que te querem bem.
Não pense no peso do futuro. Construa-o!
Fortifique nossa casa de hoje, para que possa sobreviver aos possíveis vendavais do amanhã.
Ria mais, beba mais, ame mais - mesmo que a distância, mesmo que sozinho.
Agradeça por saber o que é o amor.
Escute uma música alta, vez por outra.
Vá ao cinema.
Alugue mais filmes.
Leia um bom livro.
Relaxe.
Descanse.
Sonhe.
Sonhe e busque seu sonhos sem medo de encara-los, de olha-los de frente e dizer que eles são tão grandes e belos quanto sua vontade de realiza-los.

Quem hoje tem medo de viver, não vive.
Quem hoje não vive é porque ainda não acordou.
Acorde, lave as impurezas, tome um bom banho.
Não desperdice a chance das nossas vidas!

Recife, 06 de Novembro de 2008.

1 de julho de 2010

Aniversário

Teu aniversário passou
E preferi não lembrar.
Não que eu não tenha pensado,
Não que eu tenha esquecido,
Mas resolvi não ligar.
Não foi birra,
Não foi mágoa,
Não foi nada.


Eu só não quis recordar.

Recife, 27 de Junho de 2010.

18 de junho de 2010

Terminou em Pizza

Reconstruir intimidade me dá preguiça.
É como ir à guerra sem conhecer o inimigo.
Voltar a ter pontos fracos,
Sem armas ou armaduras.
Me dá preguiça recomeçar. Ser um "só" acompanhado.
Escolher um filme sem saber se ele gosta de drama ou ação;
Em que lado da cama prefere dormir;
Se beijos no ouvido lhe inspiram sexo
Ou agonia;
Se ele gosta de cafuné.
Me dá preguiça perguntar se a cebola da pizza de calabresa
Ou se as azeitonas na mussarela estão ok.
Não me atiça a curiosidade.
Opto pela Coca Zero, para ser neutro.
Nestas horas, aposento os Colombos e os Cabrais,
Sou só preguiça.
Não quero descobrir, não quero desbravar;
Não quero sequer remar.
Aporto meu navio nestas terras longínquas,
Neste novo mar,
E me sinto só.
Só saudade de "casa":
De onde me sinto à vontade;
Onde tiro meus sapatos sem cerimônia.
Sinto saudade de não ter vergonha de minhas vergonhas
E poder deixar a louça para mais tarde.
Sinto saudade de você -
Meu lar, meu mar, meu par.

Recife, 28 de Julho de 2009.

Dos erros

Como seria se a vida fosse só de acertos?
Haveria lição?
Haveria perdão?
Haveria graça sem trapaça,
Sem pirraça,
Sem redimissão?
E se fosse uma estrada plana,
Um caminho só de ida,
Marcha definida,
Sem contramão?
Para que sinalização?
Cuidado!
Coração errado!
Atenção!

A graça da vida está nos erros,
Nos segredos,
Nos senãos.
Nos possíveis acertos,
No refrão.
Cair no mesmo buraco,
O mesmo bordão.

Só assim se faz o meio,
A teoria,
A definição.
Na vida só de acertos não haveria vida,
Choro,
Tesão.
Jornada sem graça,
Sem coro de lamentação.
A vida seria muda,
Morta,
Sem canção.

Que rufem os tambores, então!

Recife, 18 de Junho de 2010.

27 de maio de 2010

Uma chance ao amor

Quando jovens achamos que podemos desperdiçar a chance do amor à deriva. Costumeiramente desistimos diante das chulas dificuldades que nos são impostas. Achamos que porque aquela pessoa não tem o mesmo gosto musical que o nosso ou é baladeira demais, tímida demais, estudiosa de menos, podemos simplesmente deixa-la ir. Inocentemente acreditamos que a vida nos dará intermináveis chances ao amor. Acreditamos no poder da juventude, da beleza, da conquista, da eternidade, achando erroneamente que estas fulgazes qualidades nos permitirá a possibilidade de escolhas, de amar muitas e diferentes vezes. Com o tempo - apressado tempo - percebemos nosso irremediável equívoco. Percebemos que serão poucas as pessoas que nos oferecerão a sorte de amar. Percebemos, quando já nos faltar a juventude, a beleza e a astúcia, o quão importante foram aqueles fragmentos de amor que deixamos passar por nossa ansiosa vida. Com o tempo sentiremos falta daquelas sensações - privilégio de quem ama - e das mínimas coisas que se maximizam diante dos defeitos antes insuportáveis. Então, carregamos pela eternidade o arrependimento da pouca tolerância, do descaso, da cruel ingenuidade, do não ter tentado - nem que fosse pela última vez.

Recife, 26 de Maio de 2010.

6 de maio de 2010

Mobília rebelde

Se balançam as cortinas;
O vento uiva pela fresta da janela,
Como se por condolência chorasse a minha dor.
É madrugada de quinta-feira
E a costumeira mania de entralaçar-nos as pernas me abandonou.

Seu travesseiro repousa na indecente esperança de te ver retornar.
Eu já não mais.
Olho para ele e digo: acorda! Os sonhos que antes te nutriam mudaram de endereço!
Agora habitam outra cama, me deixaram pelo avesso.

Tuas flores ainda lutam no pequeno vasinho de cristal.
E alguns mosquitos zumbem - e zombam,
Na gorda esperança de se alimentar.
De certa forma se parecem comigo -
E são minha única companhia desde que você se foi -
E talvez por isto não tenha me desfeito das velhas flores murchas.

O criado-mudo se revolta e me implora uma reação:
Levanta! Cessa o choro - presta atenção! Acorda! Não viva em vão!
Retruco: cala a boca, criado! Você é mudo - esta não é a sua função.
Nosso quarto parece estar em conspiração!

Fecho os olhos, chega o sono;
Esqueço a dor.
Hoje a noite não tem o meu amor.
Nossa velha mobília rebelde resolveu dar trégua,
E agora o único ronco é o do ventilador.

Recife, 06 de maio de 2010.

5 de maio de 2010

Sublimação

Das religiões, meu sino;
Das indecisões, meu tino;
Das canções, meu hino;
Dos amores, meu menino.

Recife, 05 de maio de 2010.

4 de maio de 2010

Ex-amor

Passeava, faceiro, nas lembranças de outrora.
Bicho faminto da goiaba,
Existente e persistente na polpa de meus sonhos.

Meu amor agora é corrida sem chegada,
É cavalgada - desnecessária largada.
É troféu de outrem e à ele concede seu ronco manso,
Seus beijos e a poesia de seu gozo.

Meu amor agora é bozo no miolo do picadeiro;
(Com direito a meia-entrada)
Meu amor é boxe;
(E eu sou seu saco de pancadas)

Passeia, meu louco amor: Prenda-me se for capaz!
Meu amor é insano, profano, fulgaz.
Quer ir pro manicómio!
Meu amor é hollywoodiano e vendeu bilhetes demais;
Foi best-seller, virou blockbuster - mas já saiu de cartaz.

E ele, protagonista,
Passeava faceiro, nas lembranças de outrora.
Meu amor é ontem, não é mais agora.

Recife, 04 de Maio de 2010.

2 de maio de 2010

Adeus

Olha aqui, rapaz:
Escuta bem - que eu não sou de repetir.
Pega tuas trouxas, junta tuas moscas
E se manda daqui.
Aproveita a oportunidade
E leva junto tua falsa bondade de iludir.

Leva também essas músicas
Que já foram nossas e nem tocam mais.
Leva teus beijos sufocantes,
Tuas taças de purgante
E teu cinismo perspicaz.
Olha aqui, rapaz:
Leva também teu generoso pau,
Que já não satisfaz.

Leva teus livros,
Teus retratos,
Tuas poesias,
Tuas cartas,
Tua família,
Teus bom dias,
Etcetera e tais.
Leva também o teu perfume,
Que pra mim nem cheira mais.

Olha, rapaz:
Leva tudo.
Nossos sonhos,
Nossos filhos,
Nossas velhices,
Nossos quintais.
Leva tudo;
Tudo.
Mas devolve minha paz.

Recife, 02 de Maio de 2010.

18 de abril de 2010

Quimera

Se despediu pela janela a tal da dor exonerada
Dava tchau
Com cara de sarcasmo
Com cara de mau
Como se por ventura me dissesse:
Um dia eu volto, etcetera e tal

Inconformada pelo bom momento
Se foi a dor, o sofrimento
O caos
Prometeu retorno
Sem marcar hora, tempo
Dia ou local

Se foi a dor, o sofrimento
Pra outra casa, pra outro evento
Se foi pra outro sentimento conjugal
Me olhou em juramento:
Estou apenas dando um tempo, já já volto ao seu quintal

Em imediato consentimento
Correspondi rapidamente o tchau
Balbuciei em contento:
Querida dor, só lamento

Recife, 18 de Abril de 2010

12 de janeiro de 2010

Sono

Quero dormir o sono dos anjos
Tranquilo
Sono menino, moreno
Sem preocupações
Sono inocente, sem indecisões

Quero dormir sem sonhar
Sem ser
Sem se saber da vida
Sem almejar
Sono moleque, sem hora para acordar

Quero dormir sem desejos
Sem pesadelos e cutucões
Que me acordem em madrugadas frias
Sono sem surpresas
Sem sopetões

Quero dormir um sono sereno
Sem sermões, sinos e sons
Quero um sono tímido
Sono mocinho
Sem bandidos ou vilões

Quero um sono certeiro
Praieiro
Com cheiro de mar no travesseiro
Sono flecheiro
Quero dormir um sono por inteiro

Recife, 08 de Janeiro de 2010.

11 de janeiro de 2010

Casamento

Eu queria casar com você.
Ter filhos e cachorros e flores no jardim.
Queria as manhãs de domingo, depois de uma semana corriqueira.
Queria passeios no parque em dia de feriado.
Soltar bolinhas de sabão, empinar pipa, fazer pique-niques.
Queria aprender pintura e a tocar flauta.
Ensinar os primeiros passos de uma partida de futebol.
Queria compartilhar com os meus tudo que a mim um dia foi compartilhado.

Queria dividir a louça. eu os pratos, você as panelas.
Queria a obrigação de tirar a mesa do jantar, depois de você a ter posto.
Queria insistentemente ser lembrado de comprar o pão todos os dias.
Queria viagens de carro cheio, cantarolando músicas em família.
Queria ter que troca-lo, de tempos em tempos, por estar ficando pequeno para nós.
Sentir o cheiro do campo, a brisa da praia, numa harmonia mútua.
Fazer lanches na beira da estrada.
Tirar fotos e mais fotos para o porta-retratos da sala, do quarto, do escritório.

Queria brigas rotineiras. fazer as pazes debaixo das cobertas.
Queria a luz acesa para ler um livro, e você apagadada, para dormir.
Pilhas e pilhas de filmes, afogados em pipoca para nossos finais de semana.
Queria poder discutir com qual família passaríamos o próximo dia das mães.
Queria triplicar aquilo que me foi dado um dia como família.
Queria sentar de tempos em tempos para rever velhos retratos.
Dançar de tempos em tempos aquela velha baladinha que nos fez enamorar.
Queria poder dizer, de tempos em tempos, para ser minha por toda a eternidade.
Eu queria casar com você.

Recife, 05 de Janeiro de 2006.

3 de janeiro de 2010

Domingo

Chega domingo,
Chega a saudade.
De te saber menino,
sorrindo.
De completar minha metade.
Chega domingo,
Café na cama, leite, gema, avental.
Teatro, cinema,
Programa de casal.
Safadeza sem horário,
Dia pra arrumar o armário,
Espantar o mal.

Chega domingo e eu estou sem sal:
Ovo sem tempero,
Armário sem esmeiro,
Cinema sem letreiro,
Cama sem casal.

Recife, 03 de Janeiro de 2010.