1 de dezembro de 2011

Amor à primeira vista

Amor à primeira vista é invenção.
É coisa de turista,
Que se encanta com a novidade, com a paisagem, com a sedução.
É coisa de ativista,
De quem vive do amor como forma de conquista,
Como forma de quinhão.
Amor à primeira vista é coisa de cinegrafista,
Que coloca romance em história de vilão.
É coisa de repentista,
Que faz amor em forma de rima, em forma de verso, refrão -
É ganha-pão.
Amor à primeira vista é coisa de cambista,
Que oferece encantamento no lugar de pé-no-chão.
Amor à primeira vista é pura enganação;
É sentimento que não existe não.
É coisa de gente imediatista,
Coisa de quem não tem resposta,
De quem busca explicação.
Amor à primeira vista não é amor de coração.

Recife, 20 de Julho de 2011

24 de maio de 2011

aMORto

Anuncio hoje nossa morte,
Com estas últimas palavras,
Com este último cigarro, deste maço que fumei inteiro por ti.
Acaba agora, urgente,
Neste último gole de whisky.
Neste último porre, sacramento o nosso fim,
O cerrar das cortinas,
O nosso espetáculo sem aplausos,
Sem final feliz.
Aqui se encerra o nosso ato,
Sem platéia para testemunhar,
Para reescrever a nossa história.
Aqui acaba o nosso chão, nossa construção, nosso asfalto.
Nossa estrada que não tinha destino certo,
Mas se sabia indo, durante todos esses anos.
Morre hoje o mais sincero amor,
Maior de todos,
Melhor dos que já quis, vi ou vivi.
Nosso amor imprevisivelmente acontecido.
Morre sem canção para momentos de nostalgia,
Sem bilhetes, cartas ou lembranças do que fomos,
do que somos, ou queríamos ser.
Morrem nossos planos, nossos acertos, nossos enganos.
Nossa razão ao querer.
Morre hoje, agora! Jaz, se enterra;
Sem missa de sétimo dia, sem chororô, sem santinho.
Com o caixão lacrado,
Sem corpo velado,
Com o epitáfio vazio.

Recife, 24 de Maio de 2011.

13 de abril de 2011

O amor não pede licença

Ele vem na contramão das tuas ordens,
Na não exatidão dos teus quereres.
Na disfarçada inocência dos prazeres,
Ele vem inquietar.
Sem suplício, sem licença, sem alvará.
Ele vem sem tu menos esperar.
Sem tu menos conceder, ele irá chegar.
E ele não chega passageiro, despercebido.
Ele vem desordenando a casa, desfazendo malas, fazendo faxina,
Desorganizando a rotina, dizendo que ali é o seu lugar.
Ele chega pra ficar.
Pra morar.
Se aninha, desembrulhando ranços antigos,
Fazendo bagunça, tirando a poeira, beirando a arruaça,
Que nem mancha, que nem noda - e não passa.
Ele se faz percebível e é inconcebível sua anulação.
Ele chega sem possibilidades de não.
Sem senãos.
Propagando à multidão a sua exatidão no tempo, o seu porquê,
Se fazendo irrevogável a sua aceitação.
Ele chega tão espaçoso, tão ordinário,
Sem medir o terreno, mas com a certeza de que irá caber.
Com cara de traça, corroendo,
Ele chega fincando, pra se estabelecer.
Ele chega com a certeza de cumprir o seu dever.
O amor é assim, exato, inato, certeiro.
De uma hora pra outra ele dá as caras, ele abre a porta,
E tu vai ceder.

Recife, 25 de Março de 2011.

28 de fevereiro de 2011

Reencontro

Naquele breve instante de reencontro,
Quando nossos olhares se cruzaram tímidos, distantes,
Exatamente como da primeira vez que te vi,
Quando te conheci,
Finalmente percebi que nada havia morrido,
E que no fundo você havia voltado a ser aquela pequena sementinha de esperança,
Pronta para ser germinada.

Dentro de mim.

Recife, 01 de Março de 2011.

22 de fevereiro de 2011

Esperança

Eu sei que em algum lugar ele me espera. E eu já antecipo seu rosto, seu semblante de esperança e contentamento sem sequer ter lhe encontrado.
Eu sei que em algum lugar ele gera gentileza, retribui sorrisos, ele cumprimenta e respeita os mais idosos. Mas também se stressa com assoberbos rotineiros, também se irrita com as coisas mais simples - como da mesma forma se encanta por elas.
Eu sei que lá, ele desfruta de pequenos prazeres, de pequenos momentos, de pequenos tragos de vinhos, de pequenas rodas de amigos. E constrói paulatinamente a vida.
Eu o vejo em sua felicidade a conta-gotas, sem esbanjar momentos.
O vejo cotidiano, sereno - de repente de pijamas, numa manhã de um domingo qualquer, ocupando uma das mãos com sua ininterrupta leitura e a outra a fazer cafuné, como quem esquece do tempo, mas agarrando-o com a certeza de que lhe é finito, sem perder nada, na lucidez de suas prioridades.
Eu o vejo família, malas, campo, porta-retratos, mesa cheia, sorrisos. Eu o vejo em telefonemas distantes e próximos para quem lhe é querido.
Em algum lugar ele é romântico e rotineiramente presenteia flores chinfrins, compra guloseimas baratas e escreve bilhetes. Em algum lugar ele não espera, ele tem uma desacelerada pressa em viver, em se fazer presente. Ele surpreende.
Lá ele é bem quisto, tem o apreço de suas mães e das inúmeras avós que conquistou ao longo da vida. Ele recebe elogios, afagos, abraços e beijos no rosto e estas são as demonstrações de afeto que mais o deixam feliz, que lhe fazem sorrir - vitorioso e tímido.
Lá, nesse lugar onde ele mora, ele aprendeu os mais valiosos princípios. Neste lugar que pode ser uma grande cidade, um vilarejo, um templo, uma família, o interior de si, ele aprendeu sobre honestidade, respeito, sinceridade, fidelidade, amor e tantas outras deslisáveis premissas que carrega como verdade absoluta, embora humano, e por vezes também erre.
Ele aprendeu a adorar e cuidar dos animais e sonha em ter filhos - vários - correndo pela casa. Esticando o fio da vida, postulando ensinamentos, educando.
Lá ele aprendeu a ser paciente e construtor. A fundar o alicerce, subir os tijolinhos e caprichar no acabamento. Aprendeu que isto requer esforço e dedicação, como da mesma forma aprendeu sobre persistência.
Neste lugar em que ele me espera, também aprendeu a sonhar. E sonha lindo, visionário, invejavelmente irredutível. Ele sonha na certeza de sonhos possíveis, na certeza de que ainda nos encontraremos.

Recife, 22 de Fevereiro de 2011.

7 de fevereiro de 2011

Teus olhos

Alguma coisa nos teus olhos me enxerga
Me faz ver além do que for
Me faz ser o que eu quero ser
Coisas que eu nem sei o quê
Coisas que eu nem sei que sou
Alguma coisa nesses olhos furta cor
Furta tudo: furta sonhos, furta dor
Furta mundo, muda a cor
Alguma coisa nos teus olhos me faz cinza
Mas me faz brisa, mais sereno
Mais moreno, pequeno diante do explendor
Alguma coisa neles me fascina,
Me faz homem e menino,
Prumo e desatino, langor
Alguma coisa nos teus olhos é pavor
E é serenata - dicotomia do amor
Alguma coisa neles me confunde
Se difundem
Me dispersa
Alguma coisa neles me tropeça
E me levanta neste mesmo instante
Incerto, certeiro, errante
Berrante, diante do furor
Alguma coisa nos teus olhos me acolhe e me renega
Mas todas as coisas neles me entrega
E é simples, é claro, é fato
Alguma coisa nos teus olhos me faz renascer
Me faz ser re-nato

Recife, 08 de Fevereiro de 2011.

20 de janeiro de 2011

O tempo de amar

Algumas coisas eu perdi no tempo:
O prazer dos goles de um vinho,
A leitura de um cardápio em conjunto,
O paladar de uma boa conversa.
Esse mesmo tempo que me levou o charme da conquista me apresentou um eu mais imediatista,
Menos paciente,
Mais massificado,
Mais qualquer um,
Igual a todos os outros.
Esse mesmo tempo me fez uma incógnita ambulante,
Um romântico sem essência,
Apressado, impaciente.
Com o tempo fui envelhecendo o coração,
Fiquei enrugado, ranzinza.
Com o tempo eu parei de me dar chances, de arriscar.
Parei de flutuar aos lugares mágicos que costumava ir,
Que nem eu mesmo sabia onde, mas ia... sem pensar.
Passei a ser mais pé no chão,
Encravado,
Encrustado -
Como uma árvore estagnada no tempo, secandos os galhos e esperando as folhas cair.
Há tempos perdi a beleza das flores, dos frutos, fui apodrecendo.
Esse medo da desilusão me tornou o que nunca quis ser: um desiludido.
Hoje, o precioso tempo, dono da vida, da experiência, do viver,
Esse precioso tempo me diz que não volta e já nem sei se consigo correr atrás desse meu eu esquecido -
Esquecido em qualquer lugar que não lembro onde.
Hoje me tornei um burro sábio, e como todo ele, só me restam conselhos aos que ainda sobrevivem.
Aos que ainda acreditam,
Aos que ainda esperam.
Aos poucos românticos eu digo que não desistam,
Não se corrompam,
Não se entreguem.
Eu grito: viva! A vida é breve.
Acelerem o coração,
Mas não percam as paradas, as pausas, as delícias do viver.
Não percam o encontro.
Porque o amor chega,
Mas o amor não pode esperar.

Recife, 21 de Janeiro de 2011.

10 de janeiro de 2011

A esperança se foi

De repente um palpite de esperança reacende todo eu esquecido.
Esquecido nos sonhos bandidos,
Nos rompantes de sonhos,
Nos tragos dos travesseiros de lágrimas enxutas,
Esquecido nos meus desvios de vida.
De vidas a dois,
De estradas trilhadas,
Nos desvirtuosos caminhos percorridos pelo coração.
E basta um fio de esperança,
Uma gota, uma dose fatal - nem sequer overdose.
Só um fio de esperança é suficiente para que eu me reencontre,
Que eu me acenda de novo feliz, de novo brilhando, de novo florindo.
Que meu travesseiro me acorde de novo cantando.
Mas é um fio tão fio,
Tão ténue,
Tão frágil, de novo,
Que logo se parte,
Que logo se rompe,
Que logo se marte, longínquo.
E volto a me esquecer.

Recife, 11 de Janeiro de 2011.