24 de maio de 2011

aMORto

Anuncio hoje nossa morte,
Com estas últimas palavras,
Com este último cigarro, deste maço que fumei inteiro por ti.
Acaba agora, urgente,
Neste último gole de whisky.
Neste último porre, sacramento o nosso fim,
O cerrar das cortinas,
O nosso espetáculo sem aplausos,
Sem final feliz.
Aqui se encerra o nosso ato,
Sem platéia para testemunhar,
Para reescrever a nossa história.
Aqui acaba o nosso chão, nossa construção, nosso asfalto.
Nossa estrada que não tinha destino certo,
Mas se sabia indo, durante todos esses anos.
Morre hoje o mais sincero amor,
Maior de todos,
Melhor dos que já quis, vi ou vivi.
Nosso amor imprevisivelmente acontecido.
Morre sem canção para momentos de nostalgia,
Sem bilhetes, cartas ou lembranças do que fomos,
do que somos, ou queríamos ser.
Morrem nossos planos, nossos acertos, nossos enganos.
Nossa razão ao querer.
Morre hoje, agora! Jaz, se enterra;
Sem missa de sétimo dia, sem chororô, sem santinho.
Com o caixão lacrado,
Sem corpo velado,
Com o epitáfio vazio.

Recife, 24 de Maio de 2011.