30 de maio de 2012

Amor Carrossel

Eu acredito que essa chama é o que nos mantém vivos enquanto poetas, sonhadores, crentes e carentes. O amor latente, pulsante, vivo, fogo. Precisamos acreditar nisto, pois é nosso combustível enquanto homens cordiais. Mas no fundo, no fundo, queremos deitar na cama e sentir linearidade. Queremos moral no sentido mais óbvio da palavra. Queremos pé-no-chão. Queremos dormir e acordar nutridos de certezas. Queremos saber que nosso café-da-manhã estará lá, e não passaremos fome. O amor montanha-russa é lindo de se ver, de se falar, de se declamar. Mas no fundo, nós, românticos, queremos um amor-carrossel.

Recife, 31 de Maio de 2012.

3 de maio de 2012

Por que amor?

Por que crescemos racionais e humanos à espera de alguém?
Por que, quando e onde surgiu este conceito de necessidade agregada que se espalhou pelos quatro cantos e culturas do mundo?
Por que somos culturalmente impostos a acreditar que nosso objetivo-fim nas relações é o amor eterno?
Por que somos levados a acreditar que falhamos quando este objetivo não é alcançado por qualquer infeliz desvirtuosidade da vida?
Por que o pensamento mais aterrorizante para uma mulher é a possibilidade de ficar para titia?
Por que nosso maior medo é o de envelhecer sozinho?
Por que quando cortamos o cordão umbilical afetivo-dependente com nossa mãe, procuramos imediatamente outro alguém de quem possamos depender?
Por que não podemos nos relacionar apenas para procriar e suprir a nossa necessidade sexual?
Por que nutrimos relações que intrinsecamente já carregam consigo sentimentos negativos, como o ciúme e a posse?
Se relacionamento é tão bom, por que temos relações monogâmicas?
Por que não se relacionar com várias pessoas ao mesmo tempo?
E se nosso objetivo é o amor monogâmico, por que traímos?
Por que este ato é tido como traição?
Se nascemos livres, por que devemos pertencer apenas a uma pessoa?
Por que devemos pertencer a alguém?
Por que devemos seguir regras para se relacionar?
Se não mandamos em nosso coração - se somos instintivos no amor - por que não podemos amar e nos relacionar livremente?
Por que isto é errado?
Por que precisamos nos relacionar, em primeira instância?
Por que somos levados a acreditar que alguém irá nos completar, e não nos anular?
Não nascemos completos?
Por que achamos a paixão - que é o desejo de ter alguém de acordo com nossos padrões - um desejo nobre?
Por que enxergamos o romantismo como algo altruísta e não como um condutor para massagear nosso ego, nos fazer feliz pela suposta felicidade alheia?
Se a felicidade do outro é tão importante, por que temos tanta dificuldade em aceitar quando alguém rompe laços amorosos com a gente?
Por que nos cegamos para o egoísmo presente em todas as relações amorosas?
Por que só nos relacionamos com pessoas que são como sonhamos e queremos que elas sejam?
Por que não nos relacionamos com pessoas que não temos interesse sexual?
Por que o sexo é fator condutor para que qualquer relação engrene?
Por que não podemos amar e se dedicar a uma pessoa e ter sexo descompromissado com outras de forma livre?
Por que temos tanta dificuldade de encarar os lados negativos do amor, como o direito de posse por uma vida alheia?
Por que julgamos relações com interesse material, se toda relação é baseada em uma troca de interesses de natureza sentimental?
Por que suprir o interesse sentimental é mais nobre do que o material, se todas são relações de interesse da mesma forma?
Por que não questionamos o amor, apenas vivemos?
Por que quando se trata das relações amorosas, não percebemos o quão difícil é se relacionar com outro ser humano e as encaramos a toda e qualquer circunstância?
Por que dificilmente enxergamos os benefícios de sermos sós e livres, sem a interferência de outro?
Por que não nos é dada, de forma natural, a possibilidade de construir uma vida com alguém ou de não fazê-lo?
Por que ninguém nos diz que podemos ser sós?
Por que não podemos ser sós?

Se você conseguir responder a todos estes questionamentos, lhe será concedido, por você mesmo, o direito de ser feliz em paz com o amor.



Recife, 03 de Maio de 2012.

27 de abril de 2012

Broto amor

É como se fosse uma pequena planta;
Que aos poucos a gente vai regando.
{
Aduba;
Poda;
Bota num xaxim.
}
E quando menos se espera,
A gente tem um jardim.

Recife, 14 de Abril de 2012.

26 de abril de 2012

Sobre voltas e recomeços

Eu não acredito neste negócio de sempre seguir em frente.
É muito objetivismo para uma vida que é tão subjetiva;
Tão cheia de possibilidades.
Eu acredito nas pausas, nos retornos, na marcha à ré.
Na contramão, inclusive, se necessário.
Às vezes é preciso voltar, mesmo que seja para ver que nada mudou e que seguir em frente é o melhor caminho.
É que acreditar que o fim é necessariamente o fim, é como perder o desapego pelo começo.
É como se não valesse a pena nem começar.
Por que tudo termina -
É fator irrevogável da vida.
Mas em cada pequeno instante em que tudo começa e termina,
Também nos é dada a mágica possibilidade de fazer diferente.
De voltar atrás;
De consertar;
De reescrever;

De reviver.
Quem diz que sempre segue em frente, não tem esperança na vida.
Não sabe ser.

Recife, 26 de Abril de 2012.

15 de abril de 2012

Amoreterno

Eu sempre acreditei no amor-pra-vida-toda
No felizes para sempre
Naquele amor-de-cadeira-de-balanço
Amor-de-chá-da-tarde
Doce de jaca
Naquele amor-compota
Eu sempre acreditei naquele amor-chochilo-após-o-almoço
De novela das 06
De chinelo de pano
Naquele amor-dentadura
Amor-de-casa-cheia-de-netos-no-domingo
Amor-farto-e-gordo
Naquele amor-artrose
Naquele amor-diabetes
Naquele amor-catarata
Eu sempre acreditei naquele amor-que-todo-mundo-sonha
Naquele amor-que-todo-mundo-morre
E mata
Eu sempre acreditei naquele amor-de-invejar
Naquele amor-gagá


Recife, 15 de Abril de 2012.

10 de abril de 2012

Café-com-leite

É tarde da madrugada
Meu peito urra
Pede arrego
O silêncio bagunça minha casa
Desordenado
Ensurdecendo
Não sei como
O que antes era harmonia
-
Me levanto para tomar um café
Um café com pão de ontem
Como o nosso amor
Coado
Requentado pelas circunstâncias da vida
Mas que ainda aquece
Ainda serve de fonte para alimentar meus sonhos
-
Ouço um mensageiro dos ventos
Em alguma varanda
Que me insiste em ninar
Tão só e tão triste
Cantando para ninguém
-
Mas a fumaça do cigarro me traz lembranças tuas
E isso me inquieta
Lembro da gangorra da minha infância
Das fogueiras de São João
Dos traques-de-massa
Do tempo em que meu peito era café-com-leite
Sem rechaça
Sem preocupação


Recife, 11 de Abril de 2012.

3 de abril de 2012

Quando fui chuva

A chuva pinga lá fora
E aqui dentro uma enchurrada de incertezas me devora
Me recordo de outros tempos
Dos amores de outrora
Lhes comparo com o amor de agora
A chuva pinga mas só molha lá fora
Aqui dentro também pinga
Mas é meu peito que chora

Recife, 04 de Abril de 2012.

26 de março de 2012

Despedida

É chegada a hora da partida;
Somos de novo metade - à parte;
Parte desunida.

É chegada a hora da ida,
Do adeus.
Nossas vidas desprendidas;
Desunido eu.

{Abraço de despedida;
Gosto de missão cumprida;
Sentimento em apogeu.}

É chegada a hora mais sofrida:
Peito sem saída;
Coração sem vida;
Eu sem meu Romeu.

Recife, 26 de Março de 2012.

21 de março de 2012

Sei lá

Sei lá...
É difícil falar sem caretice,
Explicar esse sentimento sem qualquer meninice,
Sem qualquer inocência de verdade.
Sem um tom desamparado,
Sem sentir feito adolescente o peito pulsar de ansiedade.

Sei lá,
É estranho sentir sem poder tocar.
É estranho só de imaginar.
Tua boca na minha,
Tua pele na minha,
Nossos corpos se comendo nesse sentimento singular -
Nosso roçar.
É estranho só de pensar, sei lá.

Mas aconteceu,
E não era de se esperar.
Bela surpresa, presente, apogeu:
Nossos olhos se cruzaram,
Nossos caminhos se entrelaçaram,
Eu de você - você de eu.

Seu inesperado bom dia,
Nossa conversa que ia, fluia.
A boca que sorria,
O olho que irradia,
Algo que, sei lá, lá dentro mexia.

E agora, de nós o que seria?
Sei lá.
Só sei que alguma coisa acontece,
Um turu-turu que enobrece,
Que aquece.
Que me faz querer mais - pedir bis -
Ser tiete.

Num instante em que nada existia,
E aqui dentro se fazia calmaria,
Algo chegou para inquietar - me fez gozar.
Me perguntei o que seria,
Me questionei se deveria,
Mas era muito simples para tanto questionar,
Para tanto penar.

Você apareceu
E eu não tive escolha,
Sei lá...

Recife, 22 de Março de 2012.

6 de março de 2012

Sobre jardins e estações

É na polpa do peito que está o jardim de cada um.
É onde tudo brota,
É onde tudo morre,
No decorrer das estações que chamamos viver.
Já vi muitas flores desabrocharem, sorrindo para mim,
Perfumadas na melhor estação que podemos também chamar amor -
Nossa primavera.
Já colhi muitas que perfumaram minha casa,
Enfeitaram minha morada, meu eu.
Que me deram a segurança de uma temporada farta,
Gorda.
Dos quais colhi frutos e também plantei, aos montes.
Já encontrei alguns prontos, bem cuidados, coloridos.
E também já precisei plantar sementes e mudas,
Regar, podar, e com paciência e cuidado esperar seu resultado,
Seu brotar,
Seu momento-fim de nos alimentar.
-
Mas aprendi que nem toda terra está pronta para ser jardim,
Para ser pomar.
Que não adianta colocar adubo, não adianta se dedicar.
Às vezes, o querer não basta.
Aprendi que em alguns lugares, por mais que tentemos,
Ainda é inverno.

Recife, 06 de Março de 2012.

12 de janeiro de 2012

Saudade

Saudade é um sentimento constante na minha vida.
Mas aprendi que saudade nem sempre é maçante.
Saudade às vezes é bom, pois serve como um indicador para o coração de que vivemos pessoas ou momentos inesquecíveis.

Recife, 12 de Janeiro de 2012.

9 de janeiro de 2012

Temporal em mim

Não foi um chuvisco,
Um orvalho,
Uma breve ilusão de nuvens negras que não se fez cumprir;
Não foi um talvez.

Foi certeza;
Foi temporal;
Que chegou fazendo estrondo, estrago, inundando;
Mas me deixou cantando, florindo outra vez.

Eu ri, dancei na chuva, dei frutos, enverdeci;
Achei que era de novo criança;
Sambava na poça, sorrindo à toa,
Contente pelo que me fez.

Você chegou desavisado, contrariando,
Desvirtuando a previsão do tempo;
Você chegou molhando;
E eu gozei.

Recife, 09 de Janeiro de 2012.

6 de janeiro de 2012

5S

É tempo de faxina!
De jogar o que não presta,
Doar o que está em desuso,
De limpar todos os cantinhos,
Todas as frestas.
É tempo de organizar;
De varrer,
Espanar,
Polir,
Lixar;
Renovar -
Cuidar do jardim,
Plantar!
Do bom, a saudade;
Do ruim, a lição;
Ao futuro, vontade;
Pro passado, perdão.
Mas não vale qualquer faxina,
Qualquer faxina em vão,
Sem tesão.
Tem que ser com muito esmero,
Com muito carinho,
Com paixão.
E se por fim, terminada a limpeza,
Tudo no seu lugar:
Nas lembranças o que faz bem;
No lixo o que faz mal.
E o coração?
No varal.

Recife, 06 de Janeiro de 2012.

4 de janeiro de 2012

Lembrança

Acordou lembrando do amor que sentiu outrora;
Não era sofrimento,
Não era saudade, nem nada.
Era só porque não tinha um outro amor para lembrar de agora.

Recife, 04 de Janeiro de 2012.

Convite

Nunca mais eu fiz poesia - também pudera - nunca mais teve festa no meu coração.
Não estouraram fogos de artifício;
Artifícios da conquista,
Da sedução.
Não teve o primeiro pedaço de bolo;
Nunca mais teve discurso,
Não teve comemoração.
Não teve fogo nem vela;
Velar de saudade,
Fogo de tesão.
Não teve beijinhos;
Ninguém me roubou suspiros
Nem deixou doces lembranças.
Não teve língua nem sogra,
Nem sobras pro dia seguinte;
Não teve intimação.
-.
Não teve quem surgisse,
Nunca mais teve convite
Para celebrar a paixão.

Recife, 04 de Janeiro de 2012.