20 de janeiro de 2011

O tempo de amar

Algumas coisas eu perdi no tempo:
O prazer dos goles de um vinho,
A leitura de um cardápio em conjunto,
O paladar de uma boa conversa.
Esse mesmo tempo que me levou o charme da conquista me apresentou um eu mais imediatista,
Menos paciente,
Mais massificado,
Mais qualquer um,
Igual a todos os outros.
Esse mesmo tempo me fez uma incógnita ambulante,
Um romântico sem essência,
Apressado, impaciente.
Com o tempo fui envelhecendo o coração,
Fiquei enrugado, ranzinza.
Com o tempo eu parei de me dar chances, de arriscar.
Parei de flutuar aos lugares mágicos que costumava ir,
Que nem eu mesmo sabia onde, mas ia... sem pensar.
Passei a ser mais pé no chão,
Encravado,
Encrustado -
Como uma árvore estagnada no tempo, secandos os galhos e esperando as folhas cair.
Há tempos perdi a beleza das flores, dos frutos, fui apodrecendo.
Esse medo da desilusão me tornou o que nunca quis ser: um desiludido.
Hoje, o precioso tempo, dono da vida, da experiência, do viver,
Esse precioso tempo me diz que não volta e já nem sei se consigo correr atrás desse meu eu esquecido -
Esquecido em qualquer lugar que não lembro onde.
Hoje me tornei um burro sábio, e como todo ele, só me restam conselhos aos que ainda sobrevivem.
Aos que ainda acreditam,
Aos que ainda esperam.
Aos poucos românticos eu digo que não desistam,
Não se corrompam,
Não se entreguem.
Eu grito: viva! A vida é breve.
Acelerem o coração,
Mas não percam as paradas, as pausas, as delícias do viver.
Não percam o encontro.
Porque o amor chega,
Mas o amor não pode esperar.

Recife, 21 de Janeiro de 2011.

10 de janeiro de 2011

A esperança se foi

De repente um palpite de esperança reacende todo eu esquecido.
Esquecido nos sonhos bandidos,
Nos rompantes de sonhos,
Nos tragos dos travesseiros de lágrimas enxutas,
Esquecido nos meus desvios de vida.
De vidas a dois,
De estradas trilhadas,
Nos desvirtuosos caminhos percorridos pelo coração.
E basta um fio de esperança,
Uma gota, uma dose fatal - nem sequer overdose.
Só um fio de esperança é suficiente para que eu me reencontre,
Que eu me acenda de novo feliz, de novo brilhando, de novo florindo.
Que meu travesseiro me acorde de novo cantando.
Mas é um fio tão fio,
Tão ténue,
Tão frágil, de novo,
Que logo se parte,
Que logo se rompe,
Que logo se marte, longínquo.
E volto a me esquecer.

Recife, 11 de Janeiro de 2011.