27 de maio de 2010

Uma chance ao amor

Quando jovens achamos que podemos desperdiçar a chance do amor à deriva. Costumeiramente desistimos diante das chulas dificuldades que nos são impostas. Achamos que porque aquela pessoa não tem o mesmo gosto musical que o nosso ou é baladeira demais, tímida demais, estudiosa de menos, podemos simplesmente deixa-la ir. Inocentemente acreditamos que a vida nos dará intermináveis chances ao amor. Acreditamos no poder da juventude, da beleza, da conquista, da eternidade, achando erroneamente que estas fulgazes qualidades nos permitirá a possibilidade de escolhas, de amar muitas e diferentes vezes. Com o tempo - apressado tempo - percebemos nosso irremediável equívoco. Percebemos que serão poucas as pessoas que nos oferecerão a sorte de amar. Percebemos, quando já nos faltar a juventude, a beleza e a astúcia, o quão importante foram aqueles fragmentos de amor que deixamos passar por nossa ansiosa vida. Com o tempo sentiremos falta daquelas sensações - privilégio de quem ama - e das mínimas coisas que se maximizam diante dos defeitos antes insuportáveis. Então, carregamos pela eternidade o arrependimento da pouca tolerância, do descaso, da cruel ingenuidade, do não ter tentado - nem que fosse pela última vez.

Recife, 26 de Maio de 2010.

6 de maio de 2010

Mobília rebelde

Se balançam as cortinas;
O vento uiva pela fresta da janela,
Como se por condolência chorasse a minha dor.
É madrugada de quinta-feira
E a costumeira mania de entralaçar-nos as pernas me abandonou.

Seu travesseiro repousa na indecente esperança de te ver retornar.
Eu já não mais.
Olho para ele e digo: acorda! Os sonhos que antes te nutriam mudaram de endereço!
Agora habitam outra cama, me deixaram pelo avesso.

Tuas flores ainda lutam no pequeno vasinho de cristal.
E alguns mosquitos zumbem - e zombam,
Na gorda esperança de se alimentar.
De certa forma se parecem comigo -
E são minha única companhia desde que você se foi -
E talvez por isto não tenha me desfeito das velhas flores murchas.

O criado-mudo se revolta e me implora uma reação:
Levanta! Cessa o choro - presta atenção! Acorda! Não viva em vão!
Retruco: cala a boca, criado! Você é mudo - esta não é a sua função.
Nosso quarto parece estar em conspiração!

Fecho os olhos, chega o sono;
Esqueço a dor.
Hoje a noite não tem o meu amor.
Nossa velha mobília rebelde resolveu dar trégua,
E agora o único ronco é o do ventilador.

Recife, 06 de maio de 2010.

5 de maio de 2010

Sublimação

Das religiões, meu sino;
Das indecisões, meu tino;
Das canções, meu hino;
Dos amores, meu menino.

Recife, 05 de maio de 2010.

4 de maio de 2010

Ex-amor

Passeava, faceiro, nas lembranças de outrora.
Bicho faminto da goiaba,
Existente e persistente na polpa de meus sonhos.

Meu amor agora é corrida sem chegada,
É cavalgada - desnecessária largada.
É troféu de outrem e à ele concede seu ronco manso,
Seus beijos e a poesia de seu gozo.

Meu amor agora é bozo no miolo do picadeiro;
(Com direito a meia-entrada)
Meu amor é boxe;
(E eu sou seu saco de pancadas)

Passeia, meu louco amor: Prenda-me se for capaz!
Meu amor é insano, profano, fulgaz.
Quer ir pro manicómio!
Meu amor é hollywoodiano e vendeu bilhetes demais;
Foi best-seller, virou blockbuster - mas já saiu de cartaz.

E ele, protagonista,
Passeava faceiro, nas lembranças de outrora.
Meu amor é ontem, não é mais agora.

Recife, 04 de Maio de 2010.

2 de maio de 2010

Adeus

Olha aqui, rapaz:
Escuta bem - que eu não sou de repetir.
Pega tuas trouxas, junta tuas moscas
E se manda daqui.
Aproveita a oportunidade
E leva junto tua falsa bondade de iludir.

Leva também essas músicas
Que já foram nossas e nem tocam mais.
Leva teus beijos sufocantes,
Tuas taças de purgante
E teu cinismo perspicaz.
Olha aqui, rapaz:
Leva também teu generoso pau,
Que já não satisfaz.

Leva teus livros,
Teus retratos,
Tuas poesias,
Tuas cartas,
Tua família,
Teus bom dias,
Etcetera e tais.
Leva também o teu perfume,
Que pra mim nem cheira mais.

Olha, rapaz:
Leva tudo.
Nossos sonhos,
Nossos filhos,
Nossas velhices,
Nossos quintais.
Leva tudo;
Tudo.
Mas devolve minha paz.

Recife, 02 de Maio de 2010.