28 de fevereiro de 2011

Reencontro

Naquele breve instante de reencontro,
Quando nossos olhares se cruzaram tímidos, distantes,
Exatamente como da primeira vez que te vi,
Quando te conheci,
Finalmente percebi que nada havia morrido,
E que no fundo você havia voltado a ser aquela pequena sementinha de esperança,
Pronta para ser germinada.

Dentro de mim.

Recife, 01 de Março de 2011.

22 de fevereiro de 2011

Esperança

Eu sei que em algum lugar ele me espera. E eu já antecipo seu rosto, seu semblante de esperança e contentamento sem sequer ter lhe encontrado.
Eu sei que em algum lugar ele gera gentileza, retribui sorrisos, ele cumprimenta e respeita os mais idosos. Mas também se stressa com assoberbos rotineiros, também se irrita com as coisas mais simples - como da mesma forma se encanta por elas.
Eu sei que lá, ele desfruta de pequenos prazeres, de pequenos momentos, de pequenos tragos de vinhos, de pequenas rodas de amigos. E constrói paulatinamente a vida.
Eu o vejo em sua felicidade a conta-gotas, sem esbanjar momentos.
O vejo cotidiano, sereno - de repente de pijamas, numa manhã de um domingo qualquer, ocupando uma das mãos com sua ininterrupta leitura e a outra a fazer cafuné, como quem esquece do tempo, mas agarrando-o com a certeza de que lhe é finito, sem perder nada, na lucidez de suas prioridades.
Eu o vejo família, malas, campo, porta-retratos, mesa cheia, sorrisos. Eu o vejo em telefonemas distantes e próximos para quem lhe é querido.
Em algum lugar ele é romântico e rotineiramente presenteia flores chinfrins, compra guloseimas baratas e escreve bilhetes. Em algum lugar ele não espera, ele tem uma desacelerada pressa em viver, em se fazer presente. Ele surpreende.
Lá ele é bem quisto, tem o apreço de suas mães e das inúmeras avós que conquistou ao longo da vida. Ele recebe elogios, afagos, abraços e beijos no rosto e estas são as demonstrações de afeto que mais o deixam feliz, que lhe fazem sorrir - vitorioso e tímido.
Lá, nesse lugar onde ele mora, ele aprendeu os mais valiosos princípios. Neste lugar que pode ser uma grande cidade, um vilarejo, um templo, uma família, o interior de si, ele aprendeu sobre honestidade, respeito, sinceridade, fidelidade, amor e tantas outras deslisáveis premissas que carrega como verdade absoluta, embora humano, e por vezes também erre.
Ele aprendeu a adorar e cuidar dos animais e sonha em ter filhos - vários - correndo pela casa. Esticando o fio da vida, postulando ensinamentos, educando.
Lá ele aprendeu a ser paciente e construtor. A fundar o alicerce, subir os tijolinhos e caprichar no acabamento. Aprendeu que isto requer esforço e dedicação, como da mesma forma aprendeu sobre persistência.
Neste lugar em que ele me espera, também aprendeu a sonhar. E sonha lindo, visionário, invejavelmente irredutível. Ele sonha na certeza de sonhos possíveis, na certeza de que ainda nos encontraremos.

Recife, 22 de Fevereiro de 2011.

7 de fevereiro de 2011

Teus olhos

Alguma coisa nos teus olhos me enxerga
Me faz ver além do que for
Me faz ser o que eu quero ser
Coisas que eu nem sei o quê
Coisas que eu nem sei que sou
Alguma coisa nesses olhos furta cor
Furta tudo: furta sonhos, furta dor
Furta mundo, muda a cor
Alguma coisa nos teus olhos me faz cinza
Mas me faz brisa, mais sereno
Mais moreno, pequeno diante do explendor
Alguma coisa neles me fascina,
Me faz homem e menino,
Prumo e desatino, langor
Alguma coisa nos teus olhos é pavor
E é serenata - dicotomia do amor
Alguma coisa neles me confunde
Se difundem
Me dispersa
Alguma coisa neles me tropeça
E me levanta neste mesmo instante
Incerto, certeiro, errante
Berrante, diante do furor
Alguma coisa nos teus olhos me acolhe e me renega
Mas todas as coisas neles me entrega
E é simples, é claro, é fato
Alguma coisa nos teus olhos me faz renascer
Me faz ser re-nato

Recife, 08 de Fevereiro de 2011.