30 de julho de 2010

Da dificuldade do esquecer

Surge da memória uma lembrança tua -
Tão intensa e inesperada,
Tão presente na ausência de nossos encontros.
Uma lembrança tola, quase vaga e desconcertada.
Dos tempos em que nossos boleros eram mais dança,
Em que nossas cervejas eram mais domingo;
Nossa brisa mais rede.
Surge uma lembrança chico,
Com um quê de melancolia.
Como a tristeza da partida,
Como a decepção do desencontro,
Como a agonia do não se saber.

Recife, 31 de Julho de 2010.

22 de julho de 2010

Encontro casual

Duas almas perdidas numa noite vazia.
Cruzam olhares,
Fugazes,
Os quais nunca mais se veria.

Espasmo; sarcasmo; orgasmo.
Duas almas perdidas numa noite vazia,
Nenhuma delas se sacia.

Se cruzam e se vão,
Na efemeridade dos dias.
Loucura? Magia?
Tão eloquentes, se não.

Duas almas com fome de história,
Com fome de glória, pão.
Mesa posta -
Garfo, faca e prato na mão.

Eis a ceia:

Duas almas perdidas numa noite vazia,
Abrindo suas vidas,
Quem diria!

Recife, 23 de Julho de 2010.

20 de julho de 2010

Ensaio de obra-prima

Não estava escrito esta tua saída pela culatra
Este passo em falso
Esta história mal elaborada, borrada
Este quase-conto-de-fadas

Não estava escrito no prefácio, no resumo ou nos anais
Jamais compraria tal romance
Tal história fulgás
Fadado
Fracassado
Este roteiro interminado

Se eu soubesse teria ajudado a reescrever
A refazer a história
A reinventar sua memória
Que de tudo, não restou

Se eu soubesse, teria reescrito o fim
E ao invés de sofrimento
Terminaria com nada mais justo que amor

Recife, 20 de Julho de 2010

19 de julho de 2010

A mendiga

Vagava pela rua despetalando uma flor, a mendiga.
Bem me quer,
Mal me quer.
Por alguém ela também chora,
Embora tenha outras aflições pelas quais ora:
O que come,
O que veste,
Onde mora?
Vagava a mendiga,
Com a vida desesperançosa,
Despetalando a flor.
Deixava de lado as preocupações de outrora,
Os porquês do agora,
Por um antigo amor.

Recife, 20 de Julho de 2010.

8 de julho de 2010

A chance das nossas vidas

Meu amor,

Muitas vezes perdemos tanto tempo com o vazio, que esquecemos de viver.
Perdemos tempo pensando o que poderia ter sido daquele dia que não foi aproveitado.
Perdemos tempo pensando no que o namorado poderá ter feito naquela noite sozinho na boate.
Perdemos tempo sofrendo por antecipação, chorando por uma rejeição não efetivada.
Perdemos tempo nos lamentando, discutindo, brigando, cortando e costurando os pedaços de nosso coração.
Ocupamos a cabeça com pensamentos vazios que não nos levam a lugar algum.
Lamentamos não termos nosso próprio dinheiro.
Lamentamos não termos passado em um concurso por 1,2 pontos.
Por não termos produzido tanto naquela tarde solitária.
Por estar sozinho - mesmo sabendo que temos um mundo que nos ama lá fora, nos esperando.
Choramos o que nunca foi vivido.
Choramos pelo medo de não viver.
Choramos e sofremos dissabores insípidos, que sequer se valem a dor.

Por isso, às vezes, esquecemos de acordar.
De lembrar que só há uma vida e que precisa urgentemente ser consumida.
Quando isto acontece, minha vida, repaginamos nossa história!
Colorimos nossos livros,
Zelamos pela nossa biblioteca.
Quando isto acontece mudamos do montinho ao qual estávamos acostumados a nos observar e subimos uma montanha, porque ficamos gigantes!

Meu conselho é, meu amor,
Não perca tempo com o vazio dos dias que não vivemos - receba os próximos de braços abertos.
Não lamente as derrotas - encare-as como uma evolução.
Lute.
Tenha garra.
Acredite que só você tem o poder de conseguir.
Não lamente uma tarde improdutiva - produza mais no dia seguinte.
Não forçe sua mente - ela quem tem controle sobre você.
Descanse-a.
Não sofra com a solidão - aqueça seu coração com os tantos que te querem bem.
Não pense no peso do futuro. Construa-o!
Fortifique nossa casa de hoje, para que possa sobreviver aos possíveis vendavais do amanhã.
Ria mais, beba mais, ame mais - mesmo que a distância, mesmo que sozinho.
Agradeça por saber o que é o amor.
Escute uma música alta, vez por outra.
Vá ao cinema.
Alugue mais filmes.
Leia um bom livro.
Relaxe.
Descanse.
Sonhe.
Sonhe e busque seu sonhos sem medo de encara-los, de olha-los de frente e dizer que eles são tão grandes e belos quanto sua vontade de realiza-los.

Quem hoje tem medo de viver, não vive.
Quem hoje não vive é porque ainda não acordou.
Acorde, lave as impurezas, tome um bom banho.
Não desperdice a chance das nossas vidas!

Recife, 06 de Novembro de 2008.

1 de julho de 2010

Aniversário

Teu aniversário passou
E preferi não lembrar.
Não que eu não tenha pensado,
Não que eu tenha esquecido,
Mas resolvi não ligar.
Não foi birra,
Não foi mágoa,
Não foi nada.


Eu só não quis recordar.

Recife, 27 de Junho de 2010.