22 de fevereiro de 2011

Esperança

Eu sei que em algum lugar ele me espera. E eu já antecipo seu rosto, seu semblante de esperança e contentamento sem sequer ter lhe encontrado.
Eu sei que em algum lugar ele gera gentileza, retribui sorrisos, ele cumprimenta e respeita os mais idosos. Mas também se stressa com assoberbos rotineiros, também se irrita com as coisas mais simples - como da mesma forma se encanta por elas.
Eu sei que lá, ele desfruta de pequenos prazeres, de pequenos momentos, de pequenos tragos de vinhos, de pequenas rodas de amigos. E constrói paulatinamente a vida.
Eu o vejo em sua felicidade a conta-gotas, sem esbanjar momentos.
O vejo cotidiano, sereno - de repente de pijamas, numa manhã de um domingo qualquer, ocupando uma das mãos com sua ininterrupta leitura e a outra a fazer cafuné, como quem esquece do tempo, mas agarrando-o com a certeza de que lhe é finito, sem perder nada, na lucidez de suas prioridades.
Eu o vejo família, malas, campo, porta-retratos, mesa cheia, sorrisos. Eu o vejo em telefonemas distantes e próximos para quem lhe é querido.
Em algum lugar ele é romântico e rotineiramente presenteia flores chinfrins, compra guloseimas baratas e escreve bilhetes. Em algum lugar ele não espera, ele tem uma desacelerada pressa em viver, em se fazer presente. Ele surpreende.
Lá ele é bem quisto, tem o apreço de suas mães e das inúmeras avós que conquistou ao longo da vida. Ele recebe elogios, afagos, abraços e beijos no rosto e estas são as demonstrações de afeto que mais o deixam feliz, que lhe fazem sorrir - vitorioso e tímido.
Lá, nesse lugar onde ele mora, ele aprendeu os mais valiosos princípios. Neste lugar que pode ser uma grande cidade, um vilarejo, um templo, uma família, o interior de si, ele aprendeu sobre honestidade, respeito, sinceridade, fidelidade, amor e tantas outras deslisáveis premissas que carrega como verdade absoluta, embora humano, e por vezes também erre.
Ele aprendeu a adorar e cuidar dos animais e sonha em ter filhos - vários - correndo pela casa. Esticando o fio da vida, postulando ensinamentos, educando.
Lá ele aprendeu a ser paciente e construtor. A fundar o alicerce, subir os tijolinhos e caprichar no acabamento. Aprendeu que isto requer esforço e dedicação, como da mesma forma aprendeu sobre persistência.
Neste lugar em que ele me espera, também aprendeu a sonhar. E sonha lindo, visionário, invejavelmente irredutível. Ele sonha na certeza de sonhos possíveis, na certeza de que ainda nos encontraremos.

Recife, 22 de Fevereiro de 2011.

2 comentários: