6 de maio de 2010

Mobília rebelde

Se balançam as cortinas;
O vento uiva pela fresta da janela,
Como se por condolência chorasse a minha dor.
É madrugada de quinta-feira
E a costumeira mania de entralaçar-nos as pernas me abandonou.

Seu travesseiro repousa na indecente esperança de te ver retornar.
Eu já não mais.
Olho para ele e digo: acorda! Os sonhos que antes te nutriam mudaram de endereço!
Agora habitam outra cama, me deixaram pelo avesso.

Tuas flores ainda lutam no pequeno vasinho de cristal.
E alguns mosquitos zumbem - e zombam,
Na gorda esperança de se alimentar.
De certa forma se parecem comigo -
E são minha única companhia desde que você se foi -
E talvez por isto não tenha me desfeito das velhas flores murchas.

O criado-mudo se revolta e me implora uma reação:
Levanta! Cessa o choro - presta atenção! Acorda! Não viva em vão!
Retruco: cala a boca, criado! Você é mudo - esta não é a sua função.
Nosso quarto parece estar em conspiração!

Fecho os olhos, chega o sono;
Esqueço a dor.
Hoje a noite não tem o meu amor.
Nossa velha mobília rebelde resolveu dar trégua,
E agora o único ronco é o do ventilador.

Recife, 06 de maio de 2010.

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